Sabemos que o desenvolvimento da autonomia é uma das principais competências exigidas pela Base Nacional Comum Curricular. Por isso, é fundamental que os estudantes se apropriem não somente dos conteúdos curriculares, mas do seu próprio processo de aprendizagem.
A aprendizagem autodirigida ou autorregulada é o processo no qual o estudante estrutura, orienta, monitora e avalia o seu aprendizado. Neste post, vamos falar um pouco sobre a aprendizagem autodirigida e dar dicas para aplicá-la durante a formação leitora na educação básica. Confira:
O que é a aprendizagem autodirigida ou autorregulada?
A partir da década de 80, as pesquisas sobre a aprendizagem autorregulada se intensificaram. Estudiosos de psicologia da educação buscavam compreender como estudantes poderiam se tornar aprendizes cada vez mais autônomos.
Boruchovitch & Gomes, pesquisadores ligados às teorias sociocognitivas da motivação, contribuíram imensamente para a construção do conceito de autorregulação. De acordo com Barry Zimmerman (1989), um dos pioneiros e principais teóricos da aprendizagem autodirigida, há uma relação entre os fatores pessoais, comportamentais e ambientais no funcionamento humano.
O modelo de Zimmerman de autorregulação da aprendizagem contempla os seguintes pontos:
- Planejamento
Este é o momento anterior à imersão no conteúdo. Nesta fase, é importante que o aluno analise a tarefa a ser realizada, liste os objetivos de aprendizagem, separe os materiais e ferramentas necessárias e desenhe um cronograma para as etapas de execução.
Além disso, é fundamental que o estudante defina os ambientes disponíveis para seu estudo e perceba a sua motivação sobre a temática ou assunto a ser estudado, ajustando o seu planejamento, levando em consideração esses fatores.
- Execução
Aqui, serão executadas as tarefas planejadas na fase anterior. O estudante irá realizar atividades envolvendo leitura, pesquisa, escrita e demais estratégias e técnicas de estudo voltadas à manutenção de concentração.
Neste momento, é fundamental que o aluno monitore seu processo, verificando se o seu planejamento está sendo eficiente ou se são necessários ajustes para alcançar as suas metas de aprendizagem.
- Autorreflexão
Este é um processo de autoavaliação. Nesta etapa, o estudante olha para o caminho trilhado e analisa criticamente o seu desempenho e resultados alcançados. Também é importante que o aluno preste atenção às reações emocionais que o atravessaram, sejam elas positivas, como alívio e realização, ou negativas, como frustração e estresse.
Deste modo, terá um entendimento mais aprofundado de sua motivação e respostas emocionais, ampliando o seu autoconhecimento.
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Um aluno autorregulado, portanto, é capaz de entender os caminhos metacognitivos do seu aprendizado, ou seja, possui habilidades para regular a sua própria cognição. Esse estudante planeja o seu estudo, monitora se está ou não aprendendo e avalia o seu desempenho.
Uma aprendizagem autodirigida não só garante melhor apreensão do conteúdo, mas um maior envolvimento com os estudos e um entendimento mais profundo do que movimenta a curiosidade de cada um.
A aprendizagem autodirigida não é uma capacidade inata do indivíduo, mas uma habilidade que pode ser desenvolvida ao longo do percurso escolar. Para isso, é indispensável que o estudante tenha a orientação de seu professor.
Aprendizagem autodirigida e a formação leitora
As práticas de leitura e de escrita são fundamentais no processo básico de escolarização. Após o momento da alfabetização no Ensino Fundamental, o desenvolvimento da proficiência leitora deve continuar para toda a vida, cultivando a todo momento o hábito de ler.
A inserção de um estudante no mundo letrado possibilita o acesso aos bens culturais, a apuração do senso crítico e favorece o aprendizado em todas as demais disciplinas curriculares. Uma compreensão leitora bem exercitada prepara qualquer indivíduo para todas as esferas da vida!
Ler a palavra, ler o mundo
A leitura é uma prática que acontece a todo o momento! No consumo de livros, jornais ou revistas, na interação com conteúdos de redes sociais, até mesmo nas experiências com os nossos amigos e família.
Afinal, quando estamos conversando com um amigo ou amiga e ele compartilha algo que lhe aconteceu, o que é esse momento senão uma contação de história, não é mesmo?
A atenção, compreensão e interpretação leitora depende de muitos fatores, mas uma questão basilar é a motivação. Quando gostamos de algo ou nos sentimos envolvidos por alguma temática, entendemos o que aquilo pode dizer de nós mesmos e de nossas experiências no mundo. É deste modo que todo o processo de aprendizagem fica muito mais interessante!
Para começar: uma dica de ouro!
Por isso, a nossa principal dica é: permita que o seu aluno explore o seu próprio gosto leitor. Iniciar a aplicação de estratégias ou práticas de aprendizagem autodirigida com livros que os seus estudantes gostam será muito mais simples e engajador.
Assim, em momentos futuros, você poderá inserir clássicos mais desafiadores no seu planejamento e trabalhar a ampliação do repertório leitor da sua turma.
Práticas de leitura para aprendizagem autodirigida
Nesta seção, vamos dar dicas práticas para a aplicação de estratégias de aprendizagem autodirigida em diálogo com processos de formação leitora, considerando os leitores da educação básica e a leitura literária. Vamos lá?
O pré-leitura:
Um olhar atento para a capa de um livro pode ser uma instigante estratégia de pré-leitura! O que a ilustração da capa diz para cada leitor? Desenvolver a leitura de imagens é uma competência fundamental em nosso mundo contemporâneo, e interpretar a capa de um livro pode dizer muito sobre uma história e nossas expectativas sobre ela.
Será que o autor ou autora daquela obra é reconhecido(a) pelo leitor? Que hipóteses o leitor consegue formular a partir do título do livro, da sinopse e da contracapa? Acessar conhecimentos prévios a partir dos elementos presentes na apresentação de um livro é um exercício interessante de planejamento para a leitura prestes a acontecer.
Além disso, neste momento, o educador pode orientar a sua turma a elaborar trilhas de leitura, a partir de algumas perguntas norteadoras:
- Quantos dias são necessários para eu ler este livro?
- Quantas páginas eu consigo ler por dia?
- Que materiais eu preciso para seguir com esta leitura?
- Existe um ambiente no qual eu me sinto mais confortável lendo?
- Que atividades eu gostaria de fazer para apreender o conteúdo da narrativa?
Durante a leitura:
No momento da leitura, são muitas as estratégias para tornar o processo mais dinâmico, como, por exemplo, escolher momentos de leitura autônoma e de leitura compartilhada.
Na leitura autônoma, o leitor pode focar em sublinhar palavras desconhecidas ou frases impactantes, anotar ideias que surgem durante a leitura, descobrir se prefere ler em voz alta ou em silêncio e até mesmo reler passagens mais desafiadoras duas ou mais vezes.
Na leitura compartilhada, o ato de ler é atravessado pelo diálogo! Neste caso, é interessante a leitura em voz alta, com especial atenção para entonações e vozes das personagens.
Para este momento, o educador pode separar a turma em duplas compostas de estudantes de maior e menor fluência leitora e sugerir que realizem atividades para além da leitura.
Abaixo estão alguns exercícios para realizar durante a leitura, seja nos casos de leitura autônoma ou de leitura compartilhada:
- Interpretar e conversar sobre o que o autor quis dizer com determinada passagem.
- Organizar em um mapa as principais características das personagens da história.
- Elaborar uma nuvem de palavras para investigar as principais características daquele gênero literário.
- Conduzir uma pesquisa sobre o autor ou o contexto histórico no qual ele escreveu a obra.
O pós-leitura:
Para este momento, vale a mediação de um debate com a turma a partir de perguntas disparadoras sobre a narrativa, o aprofundamento do estudo das personagens, a elaboração de uma ilustração, encenação ou releitura da história.
É importante que o estudante reflita sobre aquela obra de forma lúdica, divertida e comprometida! E se um outro final fosse criado para essa história? E se esse texto tivesse uma versão em quadrinhos, como seria? É possível produzir um meme a partir de alguma passagem do texto?
Para finalizar o encontro com um livro, é fundamental avaliar como o estudante apreendeu aquele texto, e quais estratégias de leitura funcionam melhor para cada um.
Ao final do processo, oriente a turma a investigar esse caminho trilhado, instigando cada um a refletir sobre o que mais gostaram na história, quais modos de ler preferem, se anotar ajuda ou atrapalha, se preferem ler em silêncio ou em voz alta, e por aí vai!
Nem todo livro é para todo leitor…
Professor, inserir os seus estudantes no universo literário é fundamental para trabalhar textos com profundidade, evitando reducionismos e falhas na interpretação. Mas lembre-se: nem todo estudante irá gostar ou se envolver com todo livro. É imprescindível levar isso em conta!
Não se esqueça: o mais importante em um processo de formação leitora é que o estudante sinta que concluiu um percurso e que o seu tempo com o livro e com a narrativa foi repleto de boas experiências e aprendizados, mesmo com possíveis desafios.
A aprendizagem autodirigida ou autorregulada é um “pensar o próprio pensamento”, e a linguagem e a palavra são elementos indissociáveis do ato de pensar. Por isso, experimentar a leitura e o que ela proporciona é um direito de todos! O papel da escola e do professor é indispensável neste processo de formação leitora.
Esperamos que o conteúdo tenha te ajudado a pensar novos caminhos para construir alunos cada vez mais autônomos e empoderados de seu gosto leitor.
Acesse também o nosso post “José Pacheco e as novas construções da aprendizagem” para mais reflexões sobre aprendizagem e autonomia. Até a próxima!