Há certo tempo, no Brasil e no mundo, alguns estabelecidos métodos educacionais passaram a ser questionados. Críticas sempre existiram, dessa vez entretanto o movimento passou a ser mais veemente e disseminado, com questões comuns aparecendo em diversas partes do mundo. Por vezes, as críticas são exageradas e renegam todos os benefícios da educação tradicional. Outras, mais construtivas, questionam as antigas perspectivas em face das novas demandas sociais.
O modelo que tem por base um aluno passivo – o receptor de conteúdos – foi colocado em xeque juntamente com o papel do professor-especialista – o detentor dos conteúdos. A escola, antes vista como o espaço oficial do aprendizado, passou a sofrer ampla concorrência do mundo digital e das comunidades. E o currículo desenhado em compartimentos, ou disciplinas, e apresentado de forma descontextualizada ao aluno, passou a ser pouco inspirador àqueles procurando propósito e aplicabilidade em seu aprendizado.
As principais transformações na educação
Estes temas variam em intensidade e na abordagem de solução adotada por diferentes países. Afinal, a mudança de paradigmas tem ocorrido, mais cedo ou mais tarde para todos.
No Brasil, porém, estes fatores somados – e multiplicados por outros mais – contribuem para a consolidação de problemas de aprendizagem e pouca motivação na busca por conhecimento. E enquanto nossos amigos estrangeiros evoluem a taxas rápidas, nós caminhamos lentamente.
Nossos resultados nas comparações internacionais realizadas pelo PISA 2012 não negam: ocupamos o 58º lugar em Matemáticas (desde 2009 caímos 1 posição no ranking), 59º em Ciências (caímos 6 posições) e 55º em linguagem (caímos 2 posições). Alguns podem dizer que melhoramos em sentido absoluto – nas notas – porém a verdade é que há outros que hoje melhoram mais rápido que nós.
E em um mundo conectado isso significará mais oportunidades de desenvolvimento e prosperidade…para os outros, os mais rápidos.
A sociedade passa por mudanças relevantes
Os questionamentos sobre Educação não estão desconectados de um contexto maior, uma mudança na forma como os indivíduos interagem com o mundo, em muito influenciada pelas novas tecnologias e redes sociais. Pensemos:
- A forma como o conteúdo é disponibilizado e consumido mudou, transformando nossas relações com nossos conhecidos (e desconhecidos): nossas interações com amigos, empresas, políticos e grupos de interesse é mais frequente; pessoas comuns passam a canalizar interesses específicos e ganham grandes grupos de seguidores em plataformas como Instagram, Twitter, Facebook e em seus blogs. A informação está disponível em doses gigantes (mas o conhecimento não);
- Os números surpreendem: somos hoje 1,2 bilhões de pessoas, cerca de 17% da população mundial, conectados ao Facebook, ferramenta esta na qual 41,000 posts são compartilhados por segundo (e nem sequer podemos culpar a China pelos números estratosféricos, visto que o site é bloqueado por lá). O Google recebe cerca de 3 bilhões de pesquisas por dia. E o YouTube, com público mensal superior a 1 bilhão de pessoas, recebe 100 horas de vídeo por minuto, todos os dias (comparativamente, em 2011 o YouTube recebia 48 horas de vídeo por minuto, um crescimento fantástico);
- Tecnologia para todos: a disseminação da tecnologia não se restringe à população jovem e adulta. Uma pesquisa da revista Crescer realizada com 1.045 de seus leitores, pais de crianças com até 8 anos, mostrou que 40% das crianças entre 5 e 8 anos possuem seu próprio tablet. E que os menores, com menos de 2 anos, passam em média 2 horas brincando no smartphone, diariamente. Estão plugadas desde criancinha.
E apesar de efeitos indesejados (questões de privacidade, cyberbullying, dentre outros) assistimos a uma reconquista do espaço do indivíduo: a possibilidade de imprimir sua marca, a autonomia em buscar e gerar conhecimento e a responsabilidade em mudar seu entorno, caso assim o deseje.
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O aluno passa a ter um papel ativo fundamental na geração e compartilhamento do conhecimento. Estas mudanças no “macro ambiente” não poderiam passar despercebidas no mundo da educação.
O novo contexto tem requerido uma expansão da visão de educação, uma visão que conecte criatividade, colaboração, pensamento crítico e habilidades de comunicação às competências específicas de vida e carreira, assim como às competências de informação, tecnologia e mídia. (as tão faladas competências do século 21, apesar de ainda pouco estudadas, começaram a ser analisadas recentemente para a adequação da formação, como mostra este artigo do Instituto Porvir).
Esta nova visão objetiva engajar estudantes a endereçar os problemas da vida real. O aluno passa a ter um papel ativo fundamental na geração e compartilhamento do conhecimento.
A escola, por sua vez, passa pela expansão das suas fronteiras (ao contrário de sua extinção, como muitos temiam) e se abre aos novos aprendizados e formatos.
O educador, pai ou professor, é convidado a se transformar em maestro, não somente ensinando o conteúdo curricular, mas desenvolvendo “experts em aprender”. O projeto GENTE, por exemplo, idealizado pela Secretaria Municipal de educação do Rio de Janeiro, inovou a forma como alunos interagem com novas tecnologias e como os professores atuam, em forma de mentores. É uma iniciativa ainda em testes e restrita porém mostra a relevância e o significado das mudanças.
Estas novas formas de ensinar buscam uma responsabilidade libertadora para o aprendiz: a responsabilidade por seu próprio aprendizado.
Afinal, e aqui fazemos a conexão entre macro e micro contextos: sabemos que a tecnologia transformou o contexto social no qual a educação está inserida, e mudou a forma como as pessoas vivem e interagem com o mundo. Olhemos agora para a questão fundamental: poderia esta mesma tecnologia ajudar a educação a se adaptar aos novos tempos?
Gostou da nossa reflexão? Que tal conferir também o post 4 tendências do mercado educacional.