Educador, você sabe o que é bibliodiversidade? No texto de hoje, vamos falar sobre esse conceito essencial para pensar a formação leitora e o trabalho com a leitura em sua escola. Ao final do texto, daremos dicas para a sua biblioteca escolar ficar ainda mais plural! Vamos lá?
O que é a bibliodiversidade?
O termo bibliodiversidade surgiu no mercado editorial chileno, no final da década de 1990. Cunhado pelo coletivo de Editores Independentes do Chile, o conceito de bibliodiversidade defende a expansão da circulação de livros e publicações que apresentam para a sociedade múltiplas vozes e visões de mundo.
Quando pensamos em bibliodiversidade, é importante a defesa de linhas e projetos editoriais cada vez mais plurais. A linha editorial é o que orienta a seleção dos livros a serem publicados por determinada editora. É o eixo que define os assuntos, temas e a essência de um catálogo de livros.
A especialista francesa Françoise Benhamou elucida a questão aproximando o conceito de bibliodiversidade ao de biodiversidade. “Na biodiversidade”, ela diz
“(...) temos várias espécies, mas algumas estão presentes em maior número enquanto outras são raríssimas, as que são numerosas são suscetíveis de comer ou prevalecer em relação às outras. Isto é o que está acontecendo no mundo do livro (...) é preocupante que a dominação dos blockbusters nas estantes dos supermercados e sobretudo em exibição nas livrarias esteja botando pra fora outras ofertas que são mais difíceis de promover."
A bibliodiversidade, portanto, possibilita a democratização da informação e garante a representatividade. A diversidade de histórias e narrativas permite que os indivíduos de uma cultura tenham acesso a diferentes fontes e pontos de vista.
Livrarias, bibliotecas e um mercado editorial bibliodiverso são peças fundamentais para uma educação inclusiva.
A bibliodiversidade e o mercado editorial
Convidamos Camila Cabete, líder da equipe de Conteúdo Editorial da Árvore, para um papo sobre bibliodiversidade e o mercado editorial. Ela aponta que a bibliodiversidade é fundamental para a difusão cultural e para refletirmos sobre a diversidade que temos em nosso país.
“A bibliodiversidade é uma preocupação de mercados editoriais de todo o mundo”, conta Camila. “Cada editora, dentro de sua linha editorial, procura uma maior representatividade. Um país sem bibliodiversidade é um país onde se conta um só lado de uma história…”, complementa.
Ainda que tardiamente, a pauta da diversidade está crescendo no mercado editorial brasileiro. Uma resposta necessária a uma realidade inquietante: de acordo com o PublishNews, no ano de 2014, apenas 2,5% dos autores publicados não eram brancos. Dos personagens literários, apenas 6,9% eram negros.
No livro "Literatura brasileira contemporânea" (2012), a professora Regina Dalcastagnè (UnB) apresenta os resultados de uma pesquisa sobre o cenário literário brasileiro. Ela nos mostra que, em um período de 15 anos (de 1990 até 2004), 72,7% dos autores publicados pelas principais editoras eram homens. 93,9%, homens brancos e mais de 60% viviam no eixo Rio-São Paulo.
Esses são dados que o mercado editorial brasileiro não pode ignorar, especialmente em um país onde mulheres, pretos e pardos são a maioria. Ainda de acordo com Cabete, o ideal seria que uma editora buscasse ter autores de diversas etnias, regiões e uma maior quantidade de referências culturais. Esse é um contexto em transformação, mas ainda muito desafiador:
“É uma certa utopia, pois cada editora tem uma linha editorial”, aponta. “Então, quanto mais editoras estiverem presentes nas bibliotecas escolares ou acadêmicas, nas livrarias como um todo, melhor representação da realidade teremos.”
A diversidade precisa estar na escola!
Como formar um leitor quando ele não se reconhece nas páginas de um livro? Seja na infância ou na vida adulta: a experiência com a leitura é muito mais envolvente e engajadora quando alguém se reconhece nela. A identificação com um personagem, um contexto ou uma narrativa, é um encontro formativo e transformador!
Quando falamos em formação leitora e aprendizagem, não podemos deixar de considerar que é importante incentivar também a ampliação do repertório do leitor.
Um indivíduo que não tem acesso à diversidade em um espaço de livraria ou biblioteca tem a sua escolha limitada a um número restrito de títulos e autores. Podemos potencializar as escolhas através do acesso à múltiplas narrativas, gêneros e tipos de texto.
A escola é um espaço privilegiado no processo de formação de um leitor. Por isso, a bibliodiversidade deve transbordar de suas bibliotecas e salas de aula! Pensando no contexto escolar, Camila Cabete traz uma dica importante:
“O melhor caminho é ter uma maior quantidade de editoras na lista de adoção de livros escolares. (...) Além da pluralidade de etnias, culturas e nomes de autores, temos que pensar também na variação de linhas editoriais. É algo novo que nunca foi muito discutido fora do mercado editorial, até porque viemos de uma história de escassez… sempre foi muito difícil ter acesso ao livro. Hoje, com os meios digitais, não enfrentamos mais essa barreira.”
A leitura em dispositivos móveis e digitais é uma nova realidade e possibilita a democratização da leitura. Hoje, o acesso a livros fora do eixo sudeste, por exemplo, está mais fácil.
Aqui na Árvore, levamos a sério a bibliodiversidade! Em nosso módulo Árvore Livros temos um catálogo de mais de 40 mil títulos de 600 diferentes selos editoriais.
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Inscreva-se já!Dicas para uma biblioteca mais plural
Quando oferecemos para crianças e jovens um catálogo bibliodiverso, incentivamos a formação do gosto leitor e enriquecemos horizontes. Na Árvore, as prateleiras e coleções são ferramentas de recomendação de leituras com curadoria especializada, pensando em apoiar estudantes e educadores em sua seleção de livros. O nosso time de bibliotecárias é diligente quando o assunto é diversidade nas curadorias!
Professor, a seguir indicamos livros para todos os segmentos escolares, considerando a pluralidade do nosso mercado editorial. São dicas pensadas com muito carinho para a sua biblioteca escolar ficar ainda mais diversa! Uma dica: se a sua escola já é parceira da Árvore, você e suas turmas já têm acesso a todos esses títulos! Confira a seguir:
Educação Infantil:
Ombela: a origem das chuvas, de Ondjaki
Editora Pallas Mini
Escrita pelo autor angolano Ondjaki, Ombela é a história de uma deusa que, ao chorar de tristeza, fez nascer a chuva. Mas, para que ela não fizesse mal aos que vivem na terra, Ombela resolveu chorar apenas nos mares.
Essa sensível história foi publicada pela editora Pallas. Fundada em 1975, na cidade do Rio de Janeiro, a editora dedica grande parte de seu catálogo à valorização de nossas raízes culturais e saberes africanos.
Anos iniciais do ensino fundamental:
Nuang: caminhos da liberdade, de Janine Rodrigues
Editora Piraporiando
Os Uthando eram conhecidos por sua sabedoria, pela honra de suas palavras e por sua beleza preta. Nuang, uma Uthando alegre e talentosa, gostava de deitar no colo de sua avó e ouvir histórias. “Nuang: caminhos da liberdade” é uma história que traz fortes elementos da cultura afrobrasileira e africana, incluindo palavras do tronco grupo etnolinguístico bantu.
Janine Rodrigues, autora do livro, é diretora geral da Piraporiando, instituição que tem por missão contribuir para o desenvolvimento educacional do indivíduo, fomentando a diversidade em prol de um educação antirracista, antibullying e sem preconceitos.
Anos finais do ensino fundamental:
O sinal do pajé, de Daniel Munduruku
Editora Peirópolis
Nas aldeias indígenas brasileiras, é costume que garotos prestes a entrar na fase adulta sejam introduzidos à "casa dos homens", um rito de passagem que inaugura essa nova fase. O pajé e os velhos dizem-lhes que é preciso continuar acreditando na Tradição, em seus valores e na sua cultura. Nesta história, o autor Daniel Munduruku deixa uma pergunta ao leitor: o que você diria a um jovem indígena que vive angústias semelhantes às suas?
“O sinal do pajé” faz parte do catálogo da editora Peirópolis, que atua no sentido de valorizar a riqueza e a diversidade humana, natural e cultural do nosso país, em linhas editoriais que lançam novos olhares para a educação.
Ensino Médio:
Jamais peço desculpas por me derramar, de Ryane Leão
Editora Planeta
Esse é o segundo livro de poesia de Ryane Leão, mulher preta, poeta e professora. Seu primeiro livro, Tudo nela brilha e queima, já vendeu mais de 40 mil exemplares. Em seus escritos, Ryane fala da resistência das mulheres, no fortalecimento pela arte e pela educação.
"Jamais peço desculpas por me derramar" faz parte do catálogo da editora Planeta. Presente em mais de 20 países, a Planeta se organiza em diferentes selos editoriais, onde cada um possui uma personalidade própria, e o conjunto constitui uma ampla e diversificada proposta editorial.
Esperamos que você tenha gostado das nossas dicas de hoje. Para novos olhares sobre leitura e diversidade, não deixe de conferir o nosso papo com Daniel Munduruku e Conceição Evaristo “Como incentivar a leitura no Brasil: desafios para criar um país leitor”. Até a próxima!