Há muito se discute sobre a urgência de que o sistema educacional dialogue com o todo da sociedade e inclua em suas ferramentas as práticas sociais que circulam dentro dela. Uma das formas de fazer isso está na inclusão de mídias diversas no processo educacional e o cinema na sala de aula é uma delas.
Os meios de comunicação e as artes constituem uma fatia considerável das práticas sociais com grande potencial pedagógico, mas ainda é mal utilizado. Neste texto, vamos abordar como usar o cinema na sala de aula, entendendo sua importância no processo de ensino e aprendizagem.
Porque e como usar o cinema na sala de aula?
O cinema por diversas vezes foi considerado um instrumento educativo, inclusive por seus produtores e pela própria indústria. Como exemplo, podemos citar a produção cinematográfica dos países africanos de língua portuguesa. A partir da segunda metade da década de 1970 as obras dessas regiões estiveram marcadamente voltadas para a propagação dos ideais da independência e para a pesquisa e construção de uma identidade nacional.
Estratégia parecida com a adotada pela ficção romântica brasileira do século XIX. No Brasil, não é difícil encontrar professores interessados usar o cinema na sala de aula. No entanto, como aponta Laura Coutinho, professora da Faculdade de Educação de Brasília, estando a educação escolar ainda em grande parte centrada na escrita e oralidade das aulas expositivas, o filme chega ao ambiente escolar meramente como ilustração.
Considerado ainda como um anexo, um acessório do texto, que ainda é o mais forte referencial para a escola. O filme acaba servindo, portanto, como exemplificação de passagens do texto ou de temas tratados em sala de aula: um filme sobre a Segunda Guerra Mundial quando é este o assunto da aula de História, um filme sobre um personagem com doença rara na aula de Biologia, outro baseado na obra de Machado de Assis na aula de Literatura.
O mais perigoso disso é justamente o tratamento que se dá ao conteúdo visto na tela, quase sempre tomado como retrato fiel da realidade e não como o que verdadeiramente é: a visão de alguém sobre determinado fato, uma forma peculiar de ver o mundo e transfigurá-lo em arte. Com o cinema na sala de aula é preciso, então, certos cuidados, entendendo que o filme em questão:
- Não é uma cópia da realidade (nem quando pretende isso)
- Não “reconstrói” o passado
- Não narra a vida de personagens históricas tal qual elas eram
Ao contrário, o cinema é:
- O ponto de vista de um roteirista, um diretor, um editor e toda uma equipe sobre os eventos narrados,
- A construção estética de uma visão sobre o real.
Sobre essa visão deve recair as impressões e a interpretação dos alunos e professores, que a partir daí podem construir suas próprias conclusões. É nesse ponto que a atitude comum no meio escolar de usar o cinema na sala de aula como ilustrações de temas e textos se mostra especialmente problemática. Muito comuns nas aulas de língua materna ou estrangeira, os filmes frequentemente aparecem na forma de adaptações de textos literários.
Aqui, outro problema é a postura de encarar a adaptação necessariamente como uma tradução literal da linguagem literária para a audiovisual. Vem daí o argumento tão recorrente de que “o livro é melhor que o filme” (o inverso dificilmente é comentado).Nossa recomendação, neste ponto, é de que professores e alunos façam uma reflexão sobre as relações entre as diferentes linguagens, mídias e suportes.
Podendo discutir sobre as perdas e ganhos da adaptação e dos elementos que são particulares à obra original e à adaptada. Muito mais rico que considerar um como cópia do outro, trabalhar dessa forma contribui para discutir com maior profundidade as diferentes práticas artísticas e evita a saída mais fácil de ver o filme em substituição à leitura do livro.
Cinema na sala de aula como expressão artística
Outro aspecto importante que podemos destacar, é o fato de que dificilmente o cinema, na educação escolar, é tido como a prática comunicativa e artística que é. Ao contrário, é quase sempre – como já apontado anteriormente – visto como auxiliar do texto escrito ou falado. Para evitar esse deslize, nossa sugestão é que os professores de quaisquer disciplinas, quando optarem por levar um filme à sala de aula, debruçem-se sobre ele com a devida atenção, atentando-se para análises mais profundas, como por exemplo:
- Vendo-o enquanto um projeto dotado de uma linguagem específica
- De escolhas que o diferenciam de outros do gênero
- Que usa determinados recursos tecnológicos
- Tem um posicionamento quanto à produção artística e à política de seu tempo.
Acreditamos que o cinema na sala de aula tem um amplo potencial educativo e seu trabalho pode contribuir muito para o desenvolvimento de novas possibilidades para a educação brasileira, que ainda é necessitada de inovações de toda natureza.
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