Os danos da pandemia na educação ainda estão sendo avaliados por especialistas. Apesar disso, já se sabe que o aumento da desigualdade entre escolas públicas e privadas se aprofundou. Assim, os desafios da aprendizagem tornaram-se ainda maiores, principalmente o da defasagem escolar.
Sobretudo, levando em consideração a desigualdade digital. De acordo com o TIC Domicílios, 26 milhões de brasileiros das classes mais vulneráveis não possuem acesso a internet.
Neste post, vamos falar sobre o tema da defasagem escolar. Além disso, você confere uma entrevista exclusiva com a especialista sobre o tema, Claudia Costin.
O que é e quais as principais causas da defasagem escolar
A defasagem escolar ocorre quando os conhecimentos do estudante não correspondem à sua série escolar. Esse não é um problema recente no cenário da educação brasileira. Sobretudo, seus impactos podem ser observados principalmente sobre estudantes vulneráveis nas regiões norte e nordeste do país.
Afinal, estas duas regiões possuem, respectivamente, os maiores percentuais de alunos sem acesso à educação: 28,4% e 18,3% de acordo com um estudo feito pelo UNICEF.
O fenômeno também pode ser definido como a distorção idade-série. Ou seja, quando o estudante está a duas séries atrasadas em relação a sua idade. Tudo isso impacta diretamente nos índices de evasão escolar.
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Obstáculos como a insegurança sobre os conteúdos, o mau desempenho nas avaliações, a dificuldade de acompanhar as aulas e os demais colegas nos trabalhos e exercícios, interferem diretamente na permanência dos estudantes na escola.
Isso acontece, principalmente, na etapa do ensino médio e anos finais do ensino fundamental. Além disso, essas séries já apresentam a maior taxa de evasão escolar.
Impacto da pandemia
Para além dos impactos no ensino fundamental e médio, as implicações da pandemia podem ser vistas, principalmente, sobre os estudantes da etapa de alfabetização.
De acordo com a UNICEF, 41% dos estudantes sem acesso à educação na pandemia tinham entre 6 a 10 anos de idade. Em casa, as crianças mais vulneráveis normalmente não contam com o apoio de uma estrutura que garanta uma alfabetização adequada.
Por fim, tudo isso impacta o aprendizado da língua na idade esperada. O que vai afetar também o seu desenvolvimento nas séries seguintes. Por isso, estes alunos acabam sendo na pandemia.
Confira entrevista exclusiva com especialista em defasagem escolar
Para debater esse tema, entrevistamos a professora Cláudia Costin, especialista no campo. Na entrevista, ela traz um panorama da defasagem escolar no Brasil e durante a pandemia., para falar sobre a defasagem no cenário da educação brasileira.
- Cláudia Costin, como a pandemia reforçou e influenciou o quadro da defasagem escolar no Brasil, uma vez considerada a já tão profunda desigualdade social existente?
Em 2019, já tínhamos desafios educacionais grandes, depois de termos sido um dos últimos países da América Latina a universalizar o acesso ao ensino fundamental e aumento de conclusão do Ensino Médio.
Mas com a pandemia, de acordo com dados da FGV, as escolas privadas ficaram muito menos tempo fechadas que as públicas. E ainda no caso das escolas públicas, os estudantes não possuíam os pais em casa e recursos materiais.
Em 2018, no PISA, o Brasil foi considerado o país mais desigual na educação. Imagina agora depois da pandemia? Gostaria de ver um movimento da sociedade como um todo que se preocupasse com a garantia da educação para todos. Essas perdas da pandemia são um fator de grande preocupação para a preparação de jovens críticos e preparados para o futuro.
A situação poderia ser muito pior se não tivéssemos professores que encararam a situação, mesmo sem estarem preparados, para ajustar ações e fazer um esforço bem grande para dar continuidade ao ensino. Poderia ser pior: tivemos somente 18% dos municípios que não tiveram nenhum tipo de aprendizagem em casa.
- Pensando que ainda vivemos a pandemia e as escolas ainda estão se adaptando a esse contexto, quais as formas de lidar e evitar a defasagem?
Há muitas coisas que começaram a ser experimentadas ano passado e podem ser aproveitadas. Primeiro é construir em cima do aprendizado que os professores tiveram nesses últimos anos na forma de ensinar.
Mas, além disso, é preciso investir em metodologias ativas, para dar mais protagonismo para os alunos. Por exemplo, alguns vídeos e materiais já foram preparados. Por que não aproveitá-los para usar a sala de aula invertida?
Além disso, quatro horas de aula são insuficientes para o ensino, imagina em um contexto de recuperação de aprendizagem? A maior parte dos países bem avaliados no PISA possuem no mínimo 7 horas de aulas, práticas pedagógicas e outras vivências.
Muitas redes em todo país criaram colônias de férias para recuperação de aprendizagem e isso tem sido muito importante. Mesmo em um momento que estamos vivendo ainda de pandemia, as escolas têm sido lugares seguros. Principalmente por conta do avanço da vacinação e dos aprendizados de cuidados sanitários, sobretudo pensando em famílias mais vulneráveis.
Criar turmas específicas de realfabetização para alunos de 3º e 4º ano também têm sido uma solução para avançar na aprendizagem. Além disso, acelerar a aprendizagem de alunos do Fundamental II é essencial em alguns momentos para que eles cheguem com a idade correta e, com isso, evitar a evasão escolar.
- Como os pais e responsáveis podem contribuir com a escola?
A contribuição das famílias é fundamental, mas a comunicação escola-família precisa ser uma via de mão dupla. Muitas vezes as escolas adotam uma linguagem que as famílias não acompanham.
Assim, é preciso que haja um canal de escuta dos dois lados. Então, é importante que não haja só reuniões para reclamações, mas momentos de escuta e acolhimento.
Por isso, é importante incentivar nos pais o interesse pelo que os alunos estão aprendendo e vivendo na escola. Assim, eles mostram que aprender é interessante e essencial para seu futuro.
Leia também: Relação família e escola na pandemia: confira o que dizem especialistas
- Que conselhos você daria para o gestor e gestora escolar no enfrentamento dessa problemática?
Michael Fullen diz que o diretor de escolas é o principal responsável por criar uma cultura de colaboração na escola. O gestor escolar pode ser essa figura que trabalhe nos educadores o orgulho em relação às práticas e à profissão.
Assim, é possível criar espaços de interação coletiva, como um professor assistir a aula de outro. O professor aprende mais é com outro professor!
Esperamos que essa nossa conversa com a professora Cláudia Costin te ajude a nortear o trabalho nessa temática tão importante e urgente.
Lembrando que é super importante levar em consideração que esse é um desafio da educação brasileira e você não está sozinho(a)! Por isso, dialogue com outros gestores e gestoras e conte com a Árvore para te apoiar.
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