Uma das funções sociais da escola é preparar os alunos para agirem crítica e autonomamente na vida do trabalho e exercerem a sua cidadania. A própria BNCC destaca essas duas esferas da vida como propósitos centrais da Educação Básica.
Por esse motivo, uma demanda recente em contextos educacionais tem sido a mobilização de conhecimentos do empreendedorismo. Mas você conhece os porquês dessa tendência e como implementar uma educação empreendedora na escola?
Confira neste post:
- os principais preceitos de uma educação empreendedora;
- a importância de incentivar o pensamento crítico empreendedor na escola;
- como integrar o empreendedorismo ao projeto pedagógico da escola;
- e como abordar a educação empreendedora diante do Novo Ensino Médio.
O que é educação empreendedora?
Dois estudiosos do tema são Louis Jacques Filion (pedagogo e pesquisador canadense) e Fernando Dolabela (administrador e educador brasileiro). Segundo os autores, uma Pedagogia Empreendedora é, antes de tudo, uma abordagem inovadora de ensino, que procura criar oportunidades para o desenvolvimento de uma mentalidade empreendedora.
Ainda de acordo com Filion e Dolabela, ambientes escolares que valorizam a educação empreendedora tendem a aplicar conhecimentos de áreas que não se limitam à administração de empresas. Nesse sentido, conceitos da psicologia, pedagogia, economia e sociologia, por exemplo, podem contribuir para que estudantes estruturem seus sonhos e procurem meios alternativos de impactar a coletividade.
Gestores e professores são, nessa filosofia, facilitadores de processos de ensino-aprendizagem e mediadores de discussões e eventos escolares. Nesse sentido, uma escola pautada na educação empreendedora procura promover:
- atividades em grupo para solucionar problemas e lidar com dores e demandas da comunidade escolar;
- a capacidade de liderar iniciativas que visem ao bem comum;
- a habilidade de traçar metas de vida e estratégias para a autorrealização;
- o exercício da criatividade como fator motivacional para a aprendizagem;
- a capacidade de adaptação às mudanças e requalificação;
- e as habilidades socioemocionais necessárias para lidar com as frustrações do cotidiano.
Qual a importância de ensinar empreendedorismo na escola?
As últimas décadas têm sido marcadas por intensas mudanças nas relações de trabalho. A eclosão constante de novas tecnologias digitais, crises econômicas cíclicas, emergências climáticas e disseminação de informação sem precedentes a nível global têm gerado um cenário de incertezas e instabilidade para as novas gerações.
Gestor, para você ter uma ideia da gravidade da situação, um estudo divulgado em 2023 pelo Fórum Econômico Mundial estima que 14 milhões de postos de trabalho sejam eliminados até 2027.
Por outro lado, a automação de determinadas tarefas, a difusão de algoritmos e mecanismos de inteligência artificial e o comércio digital tendem a gerar novos empregos.
O Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2023 também prevê a criação de cerca de 2 milhões de novos cargos. Profissões impensáveis para gerações antigas já são uma realidade, como analistas e cientistas de dados, especialistas em segurança cibernética e estrategistas de comércio e marketing digital.
A mentalidade empreendedora pode ser, diante desse contexto, uma forma de capacitar jovens para a vida pessoal e para o mercado de trabalho. Independentemente dos caminhos que os alunos percorram ao fim do ciclo escolar básico, o ensino do empreendedorismo pode ajudá-los a enfrentar as dificuldades das diversas esferas da vida.
No mundo do trabalho, especificamente, Filion e Dolabela (2013) apontam a educação empreendedora como uma iniciativa de formação de futuros trabalhadores para atuarem em “empresas, governo, setor terciário e organizações sem fins lucrativos, sejam como empregados, gestores, profissionais autônomos ou empresários” (p. 141).
Como integrar o empreendedorismo ao currículo escolar?
A gestão escolar possui um papel central na integração da educação empreendedora ao projeto político pedagógico de cada instituição. Veja, abaixo, algumas iniciativas práticas para promover esse diálogo.
- Incentive a capacitação docente
Os professores das diversas disciplinas da sua escola estão a par dos princípios de uma educação empreendedora de qualidade?
Em que medida esse eixo temático pode ser abordado em reuniões com a equipe pedagógica, rodas de conversa ou palestras internas, de modo a contribuir para um engajamento coletivo?
- Aposte na disseminação de conhecimento empreendedor pela Literatura
Um jeito efetivo de incentivar a educação empreendedora em todos os âmbitos da comunidade escolar é promover o acesso à leitura de livros de qualidade sobre o tema. O que acha de discutir esses títulos com certa periodicidade com funcionários, famílias e alunos?
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- Projetos interdisciplinares
Como vimos anteriormente, o senso comum tende a associar a educação empreendedora somente ao âmbito empresarial ou a determinadas correntes econômicas. Porém, essa abordagem pode promover um diálogo entre inúmeros componentes curriculares e visões de mundo diversas.
Desse modo, é interessante estimular a troca constante de ideias e saberes entre os docentes da sua escola, de modo que possam criar projetos interdisciplinares significativos com essa temática.
Um projeto pedagógico com viés empreendedor pode tratar, por exemplo, de Educação Financeira.
Para colocá-lo em prática, professores de matemática podem intervir com o ensino de cálculos e lógica, professores de línguas podem incentivar a redação de gêneros textuais que publicizem as descobertas dos alunos, e professores de filosofia podem tratar de aspectos como ética e direitos trabalhistas.
- Dialogue com o entorno da escola
Uma educação empreendedora em sintonia com uma gestão democrática também prevê a troca de vivências entre a instituição de ensino e a comunidade onde está inserida.
Pesquise, por exemplo, se há iniciativas de empreendedorismo social ou cooperativas nas proximidades da escola. Se sim, avalie a possibilidade de convidar trabalhadores dessas organizações para conversarem com as turmas e até para serem entrevistados em trabalhos escolares. Nada melhor do que o exemplo para motivar.
Educação empreendedora e o Novo Ensino Médio
A adolescência é um dos períodos da vida nos quais mais pensamos sobre planos futuros, carreiras em potencial e como pertencer ao mundo. Não é surpresa, pois, que a BNCC defina uma escola acolhedora de jovens do Ensino Médio como aquela que, dentre outros aspectos, prevê:
“o suporte aos jovens para que reconheçam suas potencialidades e vocações, identifiquem perspectivas e possibilidades, construam aspirações e metas de formação e inserção profissional presentes e/ou futuras, e desenvolvam uma postura empreendedora, ética e responsável para transitar no mundo do trabalho e na sociedade em geral. (p. 466)”
No Novo Ensino Médio, a Educação Empreendedora também é destacada, no documento, como um dos “eixos estruturantes” dos chamados “itinerários formativos” (p. 479).
A proposta de tais itinerários é organizar o currículo articulando saberes das áreas do conhecimento da formação geral básica em projetos não-mandatórios que respondam a demandas da contemporaneidade.
Em relação à educação empreendedora, a BNCC indica, explicitamente, a capacitação dos estudantes para a criação de “produtos ou prestação de serviços inovadores com o uso das tecnologias (p. 479)”.
Por isso convém separar, na grade do segmento, um espaço para um itinerário voltado ao tema, planejado com cuidado por professores de diferentes áreas desde o início do ano letivo.
E aí, gestor? Se interessou pelo tema? Então não deixe de se aprofundar lendo nossa entrevista exclusiva com uma especialista em Educação Vocacional: Conheça a Educação Emocional e Vocacional na prática! Até a próxima!