Considerando o desafio que é retornar às aulas presenciais após um longo período de incertezas e distanciamento, vamos destacar nesse texto os principais pontos para criar um plano de recuperação da aprendizagem impactante!
Além disso, vamos compartilhar com você, gestor, a experiência da rede Santa Maria Minas, que é uma escola super parceira da Árvore. Vamos lá!
Recuperação da aprendizagem versus recomposição
A pandemia do coronavírus deslocou especialistas da educação do mundo inteiro para refletir sobre as consequências do isolamento social no desenvolvimento escolar dos estudantes. Assim, a recuperação da aprendizagem tornou-se uma das temáticas mais debatidas nos últimos anos.
Embora não seja uma novidade para os educadores, por já fazer parte do início dos anos letivos, a recuperação da aprendizagem ganhou uma nova roupagem ao estar inserida em uma circunstância completamente nova, o rompimento das aulas presenciais.
A recuperação da aprendizagem acontece no contexto comum de retorno às aulas, com o objetivo de avaliar os conhecimentos consolidados do ano anterior.
Já a recomposição da aprendizagem pretende retomar o ensino daquilo que não pode ser vivenciado de forma ideal pelos estudantes, devido ao rompimento das aulas presenciais pelas limitações sanitárias impostas.
Afinal, segundo uma pesquisa da Fundação FGV, pelo menos 12% dos estudantes de 6 a 15 anos não receberam nenhuma atividade no período de isolamento, tornando os impactos da pandemia ainda maiores.
Em função disso, se tornou fundamental para as escolas refletirem sobre a melhor forma de viabilizar a recomposição e recuperação de aprendizagem de seus discentes.
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Mas então, o que fazer?
Gestor, está tudo bem se você ainda não sabe exatamente qual o caminho ideal. Afinal, não existe uma receita pronta! No entanto, é importante ter em mente que um plano eficiente de recomposição de aprendizagem exige elementos chaves, como explica a Educadora Katia Stocco Smole, diretora do Instituto Reúna nos itens descritos abaixo.
- Continuidade, organização e colaboração de todos os atores da escola são pontos essenciais à recuperação da aprendizagem. Assim, com o intuito de reduzir os impactos causados pela pandemia, é fundamental apresentar ações sistematizadas, concatenadas e com intencionalidade pedagógica.
- Fique atento! As ações de recomposição não podem ser pontuais. O plano de ação deve estar articulado com as outras atividades da escola, com diagnósticos periódicos, a partir de avaliações inovadores e diversificadas.
- Outro ponto a ser considerado: a aprendizagem precisa ser feita com sentido e de modo contextualizado, para que o estudante seja deslocado a vivenciar essa experiência de forma múltipla.
- Além disso, os objetivos e intenções de cada atividade devem ser esclarecidos e esquematizados a fim de que o estudante participe ativamente e tenha consciência de todo o processo de recuperação de aprendizagem.
- É imprescindível também, que os estudantes conheçam e compreendam os objetivos de cada ação, sendo também mobilizadas as competências socioemocionais e as habilidades gerais da BNCC, a fim de que atravessem todo o currículo.
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Para a recomposição do aprendizado, no retorno da pandemia, os gestores devem levar em consideração que esse é um processo sensível e que demandará da escola ações cuidadosas. Desse modo, seguem algumas dicas:
- combinar atividades dentro e fora da aula, assim como, dentro e fora da escola. Mesclando jogos, projetos, tecnologias e metodologias múltiplas;
- acompanhar os estudantes, baseando-se nos diagnósticos avaliativos. Tornando-os protagonistas do seu aprendizado, a fim de devolver a autonomia nas lacunas e temáticas curriculares que não tenham tido contato durante as aulas na pandemia;
- auxiliar sua equipe pedagógica, compartilhar e conhecer os desafios, ideias e boas práticas com educadores de dentro e fora da escola de origem. Isso pode ser muito estimulante e fortalecedor para sua capacidade de intervenção.
Recuperação de aprendizagem na prática: confira relato de escola
Gestor, o que acha de começar agora mesmo conhecendo a vivência e desafios das escolas da Rede Santa Maria Minas (MG) por meio das vozes das educadoras Mariângela Campos Zim e Soraia de Almeida?
Mariângela é pós-graduada em Gestão Escolar pela PUC-Minas e Soraia é coordenadora da área de linguagens dos Anos Finais do Ensino Fundamental.
Vamos ver o que elas têm a compartilhar!
Professora Mariângela, quais as maiores dificuldades enfrentadas pela sua escola e estudantes na pandemia?
Uma das grandes dificuldades foi a velocidade em que precisamos nos apropriar dos recursos tecnológicos. Desde o primeiro dia de isolamento a coordenação pedagógica dos colégios da rede Santa Maria Minas se mobilizou para enviar atividades relacionadas aos planejamentos para os estudantes.
Um pouco mais tarde, com a chegada do ensino remoto, foi muito difícil capacitar os professores e ainda conduzir as famílias para que as propostas pudessem ser aproveitadas da melhor maneira possível.
Professores, estudantes e famílias tendo que conhecer, dominar e fazer uso das tecnologias, tudo ao mesmo tempo, exigia um preparo emocional que já estava desgastado devido às consequências da pandemia.
Quais as estratégias usadas na sua escola, no retorno das aulas presenciais, pensando na recomposição da aprendizagem, professora Mariângela?
Desde o ano passado, quando foi possível retornar com os alunos para o presencial, procuramos aplicar atividades diagnósticas, com o intuito de identificar as principais lacunas. Recuperações paralelas com trilhas de aprendizagem e atividades programadas foram criadas para atender os casos abaixo da média nessas sondagens.
Desde então, estamos procurando fazer um contato constante com as famílias, no intuito de passar algumas orientações ou até mesmo indicar algum reforço para os casos mais graves.
Professora Soraia, quais são os maiores desafios enfrentados pelas escolas da Rede Santa Maria Minas?
Os desafios realmente são muitos e é preciso aprender a lidar com vários que acontecem ao mesmo tempo e buscar, pelo menos, amenizar algumas dificuldades. Os estudantes retomarem hábitos de estudo é um processo a ser resgatado.
Alguns apresentam dificuldade de verbalização e estruturações gramaticais simples. Também são perceptíveis obstáculos nas tarefas em grupo porque houve um distanciamento e não se viveu o processo de conhecimento entre os estudantes, e assim gera um estranhamento nas relações sociais.
É preciso uma nova reorganização para os atendimentos individuais, uma vez que detectamos graus diferentes de dificuldades e números muito maiores após a pandemia. A ansiedade de vários estudantes e a não confiança em si para a realização de tarefas é um agravante porque muitos estão se sentindo assim.
É um grande desafio essa retomada para toda a comunidade escolar porque, de novo, vivenciamos um caminho no qual não há fórmulas e sim muitas demandas e perguntas à espera de respostas que serão construídas no decorrer do processo.
Por isso, desenvolver um olhar de atenção, cuidado e foco em aspectos que sejam fundantes para a vida escolar do indivíduo. Tendo sempre cuidado com os sinais emocionais que são dados para que uma intervenção possa ser feita adequadamente e tenha efetividade nesse desafiador cenário no qual nos encontramos. É o aspecto número um nesse retorno às aulas presenciais.
Professora Soraia, e o que se pretende fazer no decorrer deste ano pensando na recuperação da aprendizagem?
Averiguar de diversas formas em qual estágio educacional os estudantes se encontram, como estão avançando e outras dificuldades que possam ocorrer durante este ano letivo de 2022.
O que será uma atividade corriqueira e decisiva a todo momento para, a partir dessas informações, criar situações nas quais os estudantes tenham a oportunidade de desenvolver as habilidades que não foram ou foram comprometidas em função da pandemia vivenciada.
Criar um plano de atividades relativas a essas habilidades e estar muito atento às respostas educacionais que os estudantes forem demonstrando durante o processo. E, se necessário, até adaptá-lo para que se consiga efetivamente contribuir para o crescimento educacional do indivíduo, é um importante aspecto a ser considerado.
Professora Soraia, há algum outro aspecto que gostaria de destacar?
O diálogo com as famílias é fator primordial e decisivo no sucesso desse empreendimento. Retomar trabalhos que envolvam oralidade, socialização, escrita, exercícios e muita leitura de assuntos diversificados, tanto atuais quanto clássicos, é extremamente necessário; nesse aspecto a Árvore Livros com o seu acervo de jornais, revistas, livros e trilhas é um excelente recurso no foco de desenvolvimento pedagógico.
Dar voz aos estudantes também é essencial para entender o que se passou, o que se passa com eles e as expectativas que trazem consigo, lembrando sempre que são os protagonistas neste novo contexto educacional.
E que, também, estamos vindo de um momento em que precisamos ficar isolados, que a comunicação foi duramente abalada. Na verdade, toda a comunidade, de uma certa forma, está reaprendendo e ressignificando muitos aspectos referentes à educação, que valorize o eu, o outro e o nós nesses novos tempos educacionais no qual nos encontramos.
Gestor, esperamos que tenha se inspirado ao conhecer a experiência das educadoras da Rede Santa Maria Minas.
Com esse relato, esperamos que possa elaborar estratégias sensíveis e eficientes para enfrentar o desafio da aprendizagem dos estudantes no retorno da pandemia. Baixe agora nosso Guia do Engajamento Escolar para trazer os alunos da sua escola pro centro da própria aprendizagem!