O retorno às aulas presenciais no contexto de pós pandemia trouxe novos desafios às escolas. A preocupação continua sendo a saúde, mas agora, os olhares se voltaram para a saúde mental da comunidade escolar.
Estar de volta ao chão da escola que, durante o período de isolamento, era algo tão desejado, aconteceu no primeiro semestre de 2022 com novas novas questões a serem trabalhadas. Algumas já previstas, outras nem tanto.
As escolas, nos papéis de seus gestores, estão tentando encontrar um equilíbrio entre o que precisam retomar no âmbito do conteúdo, a partir da recomposição da aprendizagem, e no âmbito da socialização dos estudantes.
O período da pandemia foi de desencontros, perdas e limitações que resutaram em dificuldade de socialização, ansiedade, luto, perda de estrutura familiar, entre outras questões.
Como a leitura pode ser uma ferramenta que contribui na promoção da saúde mental a partir do desenvolvimento de competências socioemocionais? É sobre isso que vamos falar no texto de hoje! Vem com a gente!
Competências sociomocionais X saúde mental
Antes de chegar na leitura, precisamos traçar um paralelo entre esses dois pontos que muitas vezes podem se confundir na hora de estabelecer ações que visem trabalhar essa temática na escola.
As competências socioemocionais são habilidades que podem ser aprendidas pelos estudantes, desenvolvidas a partir de práticas, atividades, exercícios e vivências. Por exemplo, empatia, gestão de tempo, autoconhecimento, entre outros, são pontos que vão ajudar o indivíduo a manter e desenvolver relações interpessoais saudáveis.
Já a saúde mental está relacionada ao estado de bem-estar e equilíbrio emocional de um indivíduo. Questões que envolvam problemas de saúde mental demandam profissionais capacitados para lidarem com elas, como psicólogos, psiquiatras, conselho tutelar, entre outros.
Ou seja, não cabe à escola tratar questões de saúde mental. O papel dela deve ser promover um ambiente acolhedor e habilitar toda a equipe a identificar sinais para encaminhamento aos órgãos competentes. Como afirma o Levantamento Internacional de Boas Práticas de Saúde Mental nas Escolas, realizado pelo Vozes da Educação.
Sendo assim, as competências socioemocionais são habilidades que, ao serem desenvolvidas, podem garantir a promoção e manutenção da saúde mental dos estudantes. Mas não vão suprir todas as necessidades de um cuidado nessa área da saúde quando qualquer problema for percebido.
As competências socioemocionais no currículo escolar
O trabalho com competências socioemocionais, que visa a promoção de saúde mental nas escolas, está previsto na BNCC e deve constar nos currículos. A competência geral da educação básica de número 8, traz a seguinte descrição:
“Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.” (p. 10)
Por isso, gestor, esteja atento a ações que podem ser colocadas em prática pelos educadores a fim de garantir que essas competências estejam sendo desenvolvidas em todos os componentes curriculares.
Não necessariamente todos os professores devem tirar um tempo de suas aulas para este fim. Mas promover saúde mental, também é sobre a forma como educadores e estudantes estabelecem e mantêm suas relações.
Dessa forma, incentivar e principalmente, ser exemplo de uma comunicação respeitosa, de uma escuta ativa, de uma palavra acolhedora e olhar atento às mudanças, já é um importante primeiro passo para incentivar a cultura do respeito no ambiente escolar.
A leitura como aliada na promoção de saúde mental
A leitura promove diversas experiências ao leitor, como o acesso a diferentes culturas e realidades, a conexão com personagens, a identificação com a narrativa, os aprendizados e as expansões de pensamentos. Todas essas experiências podem ser aliadas no desenvolvimento de competências socioemocionais.
Duas competências muito importantes na garantia de uma saúde mental de qualidade e na prevenção do bullying nas escolas são o autoconhecimento e a autoestima.
Narrativas, autores e personagens de livros com temáticas de desconstrução de estereótipos podem ser ferramentas de grande valor para apoiar os estudantes, principalmente os jovens, na construção de novas referências, imaginários e valorização.
Outro aspecto que a leitura pode auxiliar, é na criação de oportunidades de trocas. Ou seja, a imersão nas histórias e textos diversos, pode abrir portas para o diálogo, a escuta, e observação, e assim, criar formas de identificação de problemas que talvez não sejam notados no dia a dia das salas de aula.
Dicas de livros para se ter na escola
Alguns livros podem ser pontos de partida para conversas e práticas que promovam o desenvolvimento de competências socioemocionais. Vamos sugerir aqui alguns títulos que podem ser importantes investimentos para a sua escola, como forma de oferecer ferramentas ao educador para um trabalho que tenha como objetivo final, a garantia de saúde mental.
Educação Infantil
O livro “Tenho monstros na barriga” de Tônia Casarim, conta uma história muito divertida da descoberta das emoções e sentimentos pelo garoto Marcelo. Marcelo é um menino que sente coisas na barriga mas não sabe o que são.
Ele decide chamar essas "coisas" de monstrinhos até que aos poucos vai conhecendo e aprendendo a lidar com os seus "monstrinhos" que na verdade são oito sentimentos que ele vai descobrindo através de suas aventuras na escola, no campo de futebol, com sua família e amigos.
Para essa fase, em que muitas vezes as emoções ainda não são claras e identificáveis para os pequenos, o livro pode ajudar a dar nome e entender como lidar com elas.
Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Ainda na ideia de reconhecimento dos sentimentos e promoção de autoconhecimento, o livro “Emocionário”, de Cristina Núñez Pereira e Rafael R. Valcárcel, pode ser uma experiência bem proveitosa para a turma.
Como o próprio nome sugere, o Emocionário é um dicionário das emoções. Sua leitura contribui para a ampliação do repertório emocional dos estudantes, que vai auxiliar na manutenção das relações interpessoais de forma saudável e empática.
Anos Finais do Ensino Fundamental
A obra “Não me pergunte por quê”, de Sandra Saruê, aborda a temática de pertencimento. Fundamental para os alunos nessa fase, que já começam a identificar melhor seus gostos, suas individualidades e seus grupos sociais.
Na história, Aninha acha que nasceu na época errada. Ela gosta de rock e anda vestida de maneira diferente da dos alunos da escola nova em que estuda. E isso basta para que os colegas fiquem zombando dela. Mas ela vai enfrentar essa situação de maneira admirável.
A leitura do livro promove reflexões sobre as mudanças dessa fase inicial da adolescência e a construção social do “eu”. Ou seja, esse processo de se compreender e se aceitar precisa ser cuidado com atenção, pois vai influenciar no respeito às diferenças para o convívio em sociedade.
Ensino Médio
Para o Ensino Médio, o livro indicado é o “Por que lutamos”, de Niki Walker, que mostra aos leitores como pequenos desentendimentos progridem, tornando-se maiores e mais sérios.
Mostra ainda o que há de comum em todos os conflitos e a influência de preconceitos, história, diplomacia, geografia, economia e outros fatores sobre esses eventos.
Comparando os grandes conflitos com os de sua própria vida, os jovens ganham conhecimento para enxergar além das manchetes e ver os conflitos de modo crítico e investigativo. Com base em exaustiva pesquisa e revisado por especialistas, “Por que Lutamos?” dá aos leitores a voz e a confiança para que conversem sobre o mundo ao seu redor.
Para educadores
Gestor, investir em saúde mental é também cuidar de toda a equipe escolar. O cuidado deve ser mútuo para que, dessa forma, a escola se torne um espaço de acolhimento e segurança para todos.
Por isso, uma dica de livro para os educadores é “Fomos maus alunos”, de Rubem Alves e Gilberto Dimenstein. Que tal uma leitura compartilhada da obra com toda a sua equipe?
Resultado de um feliz e instigante encontro, esse livro traz para o leitor as histórias, a experiência e algumas reflexões desses admiráveis pensadores. O tema: educação. O contraste entre a educação escolar e a educação do cotidiano.
Eles são de gerações diferentes, viveram realidades distintas em termos de ambiente, costumes, família e religião. Mas há um importante ponto em comum entre eles: ambos tiveram a experiência da diferença, da rejeição. Ambos quebraram paradigmas e acabaram construindo sua própria educação. Nessa obra, eles nos convidam não apenas a pensar nossa educação, como também a retomá-la em nossas mãos.
Gestor, essas dicas podem ser um diferencial para o reconhecimento de questões de saúde mental de forma eficiente na sua escola, através das práticas que desenvolvam a inteligência socioemocional. Se você gostou desse conteúdo e quer ler mais sobre essas práticas, sugerimos o texto Competências socioemocionais: como promover em sala de aula?