Muitas experiências para a inserção de tecnologias na educação frustram ora os usuários finais, ora os decisores da compra. Ou ambos. E por quê? Listamos aqui (de forma não exaustiva, com certeza os leitores poderão contribuir com outros exemplos) as ocorrências mais frequentes com as quais nos deparamos ao entrevistar educadores, pais e mães que buscam incorporar as chamadas TICs ao processo de educação.
As tecnologias em sala de aula
O conteúdo velho em nova embalagem = comida do dia anterior reaquecida no microondas
A que distrai o aluno:
Incluídos aqui alguns objetos educacionais, e-books, plataformas sociais de aprendizado ou tablets que, desconectados de um projeto mais amplo, captam por algum tempo a atenção dos alunos… E param por aí. Cabem nesta categoria tanto os jogos apresentados de forma descontextualizada quanto o uso de e-books que “requentam” os velhos conteúdos em suas telas.
Sobre este último ponto: no último BETT Brasil, em outubro de 2013, assistimos à palestra de Richard Culatta, o Diretor de Tecnologia Educacional do Depto. de Educação dos EUA e ele resumiu este pensamento com a seguinte analogia: “o conteúdo velho em nova embalagem = comida do dia anterior reaquecida no microondas”. Uma analogia simples e real.
A que distrai o professor:
Nesta categoria estão os sistemas, plataformas de gestão de aprendizado e similares que são adicionados ao cotidiano do professor como em um toque de mágica e que adicionam trabalho desnecessário à sua rotina, dificultam a execução dos seus planos de aula e tiram o foco do que realmente importa: os alunos.
“A solução em busca de um problema”:
Geralmente, os exemplos acima também mostram ser ótimas soluções para problemas incertos, tais como “os jovens precisam de tecnologia” ou “precisamos nos modernizar”. A tecnologia aí é vista como uma formalidade, um “temos que ter” que sai caro e precisa ser espremido dentro de uma agenda pedagógica já bastante concorrida.
A moda logo esquecida:
Um clássico com exemplo recente, a lousa digital. Por qual razão passamos a acreditar que a inserção de hardware na sala de aula automaticamente levaria a ganhos de aprendizado? Depois de algum tempo estes materiais caem em desuso. E cabe aqui uma nota: esperamos (e estamos trabalhando para) que a experiência passada não se repita com os tablets, tão promissores.
A tecnologia com infraestrutura escassa:
Ok. Mas algumas escolas realmente se preparam. Discutem mudanças significativas em seus planos pedagógicos. Professores são inseridos no processo de desenho e implementação das novas tecnologias. E são treinados apropriadamente. Tudo certo. Será um sucesso! 1, 2, 3… Ops. A internet não está funcionando… Ops… como atualizamos este conteúdo? Ops… chamem a manutenção.
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A que engaja, mas vicia a criança e não educa:
Alguns jogos e plataformas sociais absorvem um tempo significativo e são questionáveis sob a perspectiva da formação. Pelo caráter viciante de muitos destes aplicativos, mãe e pai são pegos em situações de “negociação de horas” para restringir o uso de tablet, smartphone ou computador;
Quando mal utilizada a tecnologia pode ser mais um instrumento de distração e hiperestimulação, com caráter meramente informativo.
A que aliena o pai do processo de aprendizado:
Muito comum é o conteúdo que se diz educacional, mas que exclui os pais do processo educativo. Na verdade, ninguém nunca chega a descobrir o objetivo educacional real pela falta de métricas, relatórios claros e práticos ou planos de ação sugeridos para enriquecer a experiência de aprendizado.
Ou seja, quando mal utilizada a tecnologia pode ser mais um instrumento de distração e hiperestimulação, com caráter meramente informativo – ao invés de fazer parte de um plano educacional formativo.
Existe solução ou forma de evitar estes obstáculos?
O truque é parar de focar na tecnologia em si e passar a focar no aprendizado. Você raramente escutará alguém dizer “Vou me consultar com o Dr. Silva pois ele possui uma máquina de raio-X fantástica!”.
Ao invés disso, quando avaliamos a qualificação de um médico, pensamos em suas competências no diagnóstico e tratamento das doenças, em todo seu método. Sabemos que a ferramenta só é boa na medida em que o médico é bom. Por que teria de ser diferente na educação? O foco e o propósito é no aprendizado.
A verdadeira missão da tecnologia na educação
Temos acompanhado iniciativas muito promissoras de inserção da Tecnologia à educação, posicionando-a como elemento viabilizador ou de suporte, porém sempre aliado a uma transformação mental muito maior: seja com foco na personalização, na sala de aula invertida, nas mudanças do papel do professor e aluno ou no “mastery learning”. Falaremos sobre cada um destes conceitos em nossos futuros posts.
Se você é uma destas pessoas que pensa à frente mas que está lendo e pensando “Ok, isso soa maravilhoso, mas há muito a ser feito e não possuo os recursos”, pense de novo.
Se você é um educador, qual a pequena mudança que poderia fazer hoje para mudar a experiência dos seus alunos? Quando começamos a considerar as alternativas disponíveis, as escolas se tornam muito mais do que locais para preparar os alunos para o próximo “nível” ou para a próxima prova. Elas se tornam locais onde os estudantes aprendem lições de vida sobre sucesso e propósito. E aí, a tecnologia pode entrar de forma natural, quase intuitivamente.
A promessa é que o aprendizado digital enriquecerá a educação, dando mais autonomia aos educadores e alunos, mudando a dinâmica das salas de aula e das casas. Mas sabemos que a tecnologia por si só não fará esta revolução. E isso é o que torna este desafio muito mais humano, factível e dependente de cada um de nós. Por isso estamos aqui.