O que dizem as pesquisas das principais instituições de saúde sobre o tempo de tela? Quais são os riscos e benefícios? Veja a seguir:
O tempo de tela e a ciência:
O debate sobre os impactos do tempo de tela em crianças e adolescentes é recente. Ainda que a televisão, celulares e videogames estejam entre nós há décadas, somente nos últimos anos eles têm se tornado mais portáteis e acessíveis.
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ainda há progresso a ser feito na identificação de “fatos concretos” sobre o uso da tecnologia e das telas. Segundo a instituição, diretrizes que prescrevem limites de tempo rígidos para o uso da mídia precisam estar enraizadas em pesquisas multidisciplinares.
Por isso, é fundamental que a ciência siga investigando os potenciais benefícios das telas e mídias digitais – enquanto ferramentas educativas, por exemplo –, assim como os possíveis riscos físicos e mentais de seu uso em excesso.
Receba notícias de educação no seu e-mail!
Uma curadoria exclusiva que traz tudo o que os gestores escolares precisam acompanhar para se manterem atualizados.
Inscreva-se já!O que dizem as principais instituições de saúde?
O tempo de tela e o uso da tecnologia é uma temática que preocupa muitos pais e educadores. Logo, manter-se atualizado sobre as recomendações de especialistas é essencial!
Pensando nisso, no texto de hoje, iremos apresentar estudos e diretrizes de 4 respeitadas instituições de saúde pelo mundo. Confira:
1 - Organização Mundial de Saúde (OMS)
No ano de 2019, a OMS publicou o "Guia de atividade física, comportamento sedentário e sono para crianças menores de cinco anos." O documento, referência para diversos estudos ao redor do mundo, faz indicações sobre o uso de telas para crianças de até cinco anos de idade.
De acordo com a instituição, a primeira infância é um período de rápido desenvolvimento físico e cognitivo. Além disso, é nesse período da vida que os hábitos de uma criança são formados.
O excesso de comportamento sedentário frente às telas traz riscos para a saúde infantil; como obesidade, impactos no desenvolvimento motor, cognitivo e na saúde mental.
Trazendo evidências científicas, o Guia aponta que, para bebês de até 1 ano de idade, as telas não são recomendadas.
No caso das crianças maiores de 2 anos, o tempo de tela pode ser de até 1 hora diária. Além disso, o recomendado é realizar atividades ativas, como leitura e contação de histórias, ao invés de atividades passivas, como televisão e vídeos no YouTube.
Segundo a instituição, o tempo de tela envolvendo leitura e interação com um adulto pode trazer benefícios para o desenvolvimento cognitivo infantil.
Leia também: Telas para aprender e se divertir
2 - Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
A Sociedade Brasileira de Pediatria é uma organização que agrega 25 mil médicos pediatras brasileiros. Em dezembro de 2019, a SBP lançou um Manual de Orientação, realizado pelo Grupo de Trabalho Saúde na Era Digital.
O documento é uma atualização do Manual de Orientação descrito em 2016 e joga luz no uso da internet por crianças e adolescentes.
O Manual aponta que é imperativo que a sociedade civil tenha consciência das legislações que envolvem a era digital como, por exemplo, a Lei 12.965 (2014), o chamado "Marco Civil da Internet":
"além de fomentar a educação digital em seu artigo nº 29, [o Marco] faculta aos pais usuários das TICs a opção de livre escolha de programa para o exercício do controle parental como formas de proteção às mudanças tecnológicas, em especial sobre os impactos provocados nas famílias, nas rotinas e vivências das crianças e dos adolescentes"
No entanto, pais e educadores devem aprender como exercer esta mediação. Também é importante que sejam alertados sobre os limites necessários ao assumirem esta responsabilidade.
Nesse sentido, ações de mediação parental e alfabetização midiática são cada vez mais importantes. Devemos nos atentar para a intenção dos conteúdos transmitidos às crianças e adolescentes, para que todos aprendam um uso seguro e educativo da internet.
A seguir, listamos algumas recomendações gerais da Sociedade Brasileira de Pediatria. Não deixe de acessar o documento completo para visualizar todas as diretrizes da instituição. Confira:
- Bebês menores de 2 anos não devem ter acesso às telas, nem mesmo passivamente. Crianças entre 2 e 5 anos, devem limitar o tempo de tela à 1 hora por dia, sempre com mediação e supervisão.
- Crianças entre 6 e 10 anos, também com supervisão, devem limitar o tempo de tela a 1-2 horas diárias. Adolescentes de 11 a 18 anos podem acessar às telas e videogames de 2-3 horas por dia, mas nunca "virar a noite" jogando.
- Estimular o uso das telas em locais comuns da casa, nunca isolados.
- Nada de telas 1-2 horas antes de dormir, nem durante as refeições!
- Sugerir atividades ao ar livre e em contato com a natureza.
- Criar regras saudáveis para o uso de dispositivos digitais, além de senhas e filtros de segurança.
- Identificar, avaliar e diagnosticar o uso inadequado, precoce, excessivo e prolongado.
- Leis de proteção social e do uso seguro e ético das tecnologias existem e devem ser respeitadas por todos. Também devem ser multiplicadas em campanhas de educação e saúde para o público em geral.
3 - Academia Americana de Pediatria (AAP)
O artigo "Media Use in School-Aged Children and Adolescents" é uma publicação da AAP, a Academia Americana de Pediatria. O texto científico, de autoria de 3 membros da FAAP, aborda o uso de telas e mídia digitais entre crianças e jovens de 5 até 18 anos de idade.
De acordo com a pesquisa, as crianças estão crescendo em uma era de experiências de uso de mídia altamente personalizadas. Considerando isso, os autores afirmam que não existe um único modelo de uso saudável que possa ser replicado por todas as famílias e contextos.
Como solução, a AAP recomenda que responsáveis e pediatras trabalhem juntos no desenvolvimento de um Plano de Uso de Mídia Familiar. Nesse plano, recomenda-se que os pais e cuidadores estabeleçam limites de uso que atendam à idade, saúde, temperamento e estágio de desenvolvimento de cada criança ou jovem.
Além disso, pais e responsáveis devem também monitorar o seu próprio uso: segundo especialistas, esse é um ponto essencial para servir de modelo positivo e para manter uma interação saudável com crianças e adolescentes.
Além das orientações gerais dispostas acima, o artigo também apresenta insights sobre os riscos e benefícios do uso de telas por crianças e jovens. Listamos alguns deles a seguir:
Riscos:
- impactos negativos no peso, sono e saúde mental de crianças e jovens;
- exposição a conteúdos e contatos imprecisos, inapropriados ou inseguros;
- privacidade e confidencialidade comprometidas;
Benefícios:
- exposição a novas ideias e aquisição de conhecimento;
- maiores oportunidades de contato e apoio social com a família, os amigos e a comunidade;
- novas oportunidades de acesso a informações de promoção da saúde;
4 - Associação Americana de Psicologia (APA)
O artigo "What do we really know about kids and screens?", da APA, apresenta diversas pesquisas de psicólogos e outros profissionais. O ensaio tem por objetivo mapear o uso de dispositivos digitais por crianças e adolescentes.
Como citamos na introdução, as telas fazem parte do nosso cotidiano, mas a sua presença portátil (através de smartphones ou tablets) é relativamente recente. De acordo com a APA, ainda que as pesquisas tenham se aprofundado no tema, temos poucas conclusões sobre os impactos das telas no desenvolvimento infantil.
Isso se deve a diversos fatores como, por exemplo, a dificuldade de conduzir estudos longitudinais e pesquisas que tenham, de forma efetiva, diferenciado os tipos de tempo de tela.
- Bebês e primeira infância:
No entanto, algumas conclusões já têm suficiente respaldo científico, uma delas é o limite de tempo de tela para bebês e crianças de até 3 anos. Dezenas de estudos comprovaram que as crianças nessa idade aprendem melhor com uma pessoa que está fisicamente presente.
Mas as telas podem participar dos momentos de interação! Um estudo da universidade Texas Tech descobriu que crianças de 3 a 5 anos se beneficiam quando pais e cuidadores assistem a um vídeo ou programa de televisão junto com eles.
Assistir TV junto da criança pode parecer um preço alto a pagar para os pais que querem usar o tempo de tela para preparar o jantar. Mas esse não precisa ser um trabalho em tempo integral.
A psicóloga Jerri Lynn Hogg recomenda que os pais procurem organizar o tempo de tela de seus filhos, primeiro assistindo a alguns episódios com eles e conversando sobre o conteúdo. Em seguida, podem somente supervisionar conforme a criança se familiariza com o funcionamento da mídia.
- Crianças e adolescentes:
À medida que as crianças crescem, elas são expostas a mais telas, com conteúdos mais diversificados via televisão, videogames e mídias sociais. O tempo sedentário na frente das telas é uma grande preocupação dos estudiosos.
Mas os especialistas concluem: muita coisa depende de como as crianças e jovens estão usando a mídia, o quanto os seus responsáveis estão monitorando o uso, quanto tempo estão gastando na navegação e os conteúdos que estão consumindo.
De acordo com Jon Lasser, psicólogo e PhD da Texas State University, banir completamente as telas pode ser contraproducente:
“É importante que as crianças desenvolvam a capacidade de autorregulação”, diz Lasser, “e os pais que tentam microgerenciar o tempo de tela podem interferir inadvertidamente nesse desenvolvimento de autorregulação.”
O ponto fundamental é que pais, educadores e gestores escolares permaneçam engajados, e que mantenham uma comunicação aberta e saudável sobre as mídias digitais. Isso facilitará o estabelecimento de limites quando for necessário.
Esperamos que esse conteúdo tenha apoiado a sua reflexão sobre o tempo de tela, temática tão importante nos dias de hoje.
Se quiser continuar se mantendo informado sobre os principais assuntos da Educação, assine nossa newsletter!