No post de hoje trazemos alguns apontamentos sobre a violência contra o professor, uma realidade que preocupa gestores e profissionais da educação. Confira:
A violência contra o professor
Sabemos que o conflito é algo inerente às relações humanas. Quando bem manejados, conflitos podem representar uma oportunidade para o diálogo e para o surgimento de novas ideias no coletivo. Lamentavelmente, nem todo conflito abre portas para a cooperação.
A escola é um espaço fecundo de relações interpessoais, portanto – e infelizmente –, não está isenta de situações de violência. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a violência escolar como interpessoal comunitária. Ou seja, é toda ação de maus-tratos praticada, isolada ou em grupo, dentro da instituição escolar.
Estudos mostram que os profissionais da educação são vítimas de agressões físicas ou verbais com uma frequência preocupante. E não há dúvidas: a violência contra o professor impacta negativamente a boa convivência no espaço escolar.
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil apresenta altos índices de violência contra o professor. Em uma enquete realizada pela instituição, 12,5% dos professores brasileiros disseram ter sofrido intimidação ou agressão verbal pelo menos uma vez na semana.
A cartilha "Violência escolar: ações de intervenção e prevenção" foi elaborada por pesquisadores do Grupo de Estudos Interdisciplinar sobre Violência (USP). Ela mostra que a violência à escola, direcionada para a figura do professor, pode ter consequências muito sérias. Entre elas estão:
- Problemas de saúde mental: aumento de sintomas psicossomáticos, estresse, ansiedade e depressão;
- Dificuldades no processo de aprendizagem: diminuição da concentração, queda de rendimento, faltas e abandono escolar;
- Empecilhos de socialização na escola: aumento da insegurança e isolamento social, dificuldade de confiar e resolver conflitos.
Quais são as causas da violência contra o professor?
Um estudo da pesquisadora Maria Díaz-Agudo, conduzido na Espanha, demonstrou que os alunos que admitiam ter cometido violência contra o professor estavam mais expostos à situações de risco, ausência de proteção e excessos de punição.
É importante lembrar que o tema da violência contra o professor em sala de aula é multifatorial e as causas não possuem um diagnóstico simples. Uma publicação da Nova Escola aponta a complexidade de mapear razões para comportamentos agressivos.
Além disso, de acordo com a psicóloga Ana Carolina D'Agostini, o debate sobre a violência poderia abordar diferentes ângulos:
- as condições de risco e vulnerabilidade de inúmeras escolas brasileiras;
- as circunstâncias familiares dos alunos que apresentam comportamento violento;
- os aspectos psicológicos relacionados à impulsividade e à regulação de raiva em adolescentes.
O médico psiquiatra Gustavo Estanislau, em conversa com a Árvore, diz que é preciso estar atento a cada caso. Além de buscar identificar as causas do comportamento violento. Dessa maneira, a intervenção se torna mais eficaz.
"Quais são as motivações por trás desse comportamento? Algumas pessoas acabam sendo agressivas porque querem se sentir poderosas dentro de um contexto em que se sentem fragilizadas", afirma o especialista.
Em suma, lidar com a violência não é uma tarefa nada fácil. O principal, certamente, não é encontrar culpados e puni-los. Mas sim chegar nas melhores ações para restabelecer ou reforçar uma cultura de respeito e convivência pacífica na escola. Nesse percurso, a gestão escolar tem um papel fundamental!
O papel da gestão escolar
Gestor, primeiramente, é necessário reconhecer a existência da violência dentro da escola e formar profissionais para observação, diagnóstico, intervenção e encaminhamento.
Será que uma agressão ao professor pode ser uma reação a algum tipo de violência institucional? E quem são os perpetradores da violência contra o professor?
Profissionais treinados e com a escuta ativa podem elucidar essas questões. Eles, com certeza, atuarão com maior assertividade e sensibilidade frente à situações de violência.
Miriam Abramovay, especialista em violências nas escolas e juventudes, considera que devemos falar sobre violências. Pois são muitas as causas para esse cenário.
Nesse sentido, é essencial estar atento para cenários onde a escola exerce uma violência institucional sobre alunos e professores. A socióloga nos lembra que, muitas vezes, um aluno se torna rebelde e agressivo por não se sentir pertencente àquele espaço.
Portanto, é necessário que a gestão sempre atue de forma democrática e ética. É indispensável que os profissionais da educação e estudantes sintam-se ouvidos e acolhidos pela gestão. Especialmente quando são vítimas de violência, seja ela física ou verbal.
Como a gestão escolar pode atuar?
De acordo com as diretrizes da cartilha divulgada pela Universidade de São Paulo, as lideranças escolares devem, entre outras ações:
- Discutir o tema com a comunidade escolar e traçar estratégias preventivas, não apenas de intervenção;
- Buscar ajuda e orientação com especialistas (psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais), além de manter contato com conselhos tutelares e promotorias;
- Investir na melhoria da infraestrutura e segurança da escola;
- Participar nas relações sociais entre escola, família e comunidade;
- Reestruturar projetos pedagógicos de acordo com a realidade e necessidade local da escola;
- Incentivar o diálogo com os alunos;
- Oferecer cursos em tempo integral;
- Desenvolver ações educativas, sociais e culturais.
Além das diretrizes dispostas acima, lideranças escolares devem evitar que se estabeleça uma cultura punitivista na comunidade escolar. Ainda de acordo com Gustavo Estanislau, o excesso de métodos punitivos, ao longo do tempo, acabam incentivando um ciclo negativo de violência.
Lidar com a violência contra o professor exige responsabilidade. Além de cultivar um ambiente de escuta e diálogo, gestores devem atuar com intencionalidade na resolução de conflitos e nas manifestações preocupantes relacionadas à saúde mental de professores, estudantes e demais funcionários.
Gestor, esperamos que esse texto tenha apoiado suas reflexões sobre essa temática tão importante. Não deixe de acessar o nosso texto “Violência nas escolas: causas, consequências e soluções” para aprofundar o debate. Até a próxima!